A ausência de células escamosas intermediárias e superficiais e de células parabasais em amostras citológicas, particularmente em raspados cervicais, representa um achado de significância clínica. A interpretação deste resultado requer uma compreensão aprofundada da fisiologia do epitélio escamoso, do ciclo hormonal feminino, e das possíveis causas que podem levar à sua alteração. A adequada interpretação citopatológica é crucial para orientar o manejo clínico da paciente, evitando tanto o superdiagnóstico quanto a negligência de condições subjacentes potencialmente significativas.
PPT - COLHEITA, COLORAÇÃO E CITOLOGIA CÉRVICO-VAGINAL NORMAL PowerPoint
Contexto Fisiológico do Epitélio Escamoso
O epitélio escamoso estratificado do colo uterino é dinâmico, sofrendo alterações morfológicas e funcionais influenciadas principalmente pelos hormônios sexuais, especialmente o estrogênio. Em um ciclo menstrual normal, a presença de células parabasais é mais comum no início e no final do ciclo, ou em mulheres na pós-menopausa, devido à baixa estimulação estrogênica. As células intermediárias e superficiais, por sua vez, predominam na fase proliferativa do ciclo, sob a influência do estrogênio. A ausência simultânea dessas células sugere uma desregulação hormonal, atrofia epitelial ou a substituição do epitélio escamoso por outro tipo celular, como o glandular.
Causas da Ausência das Células Escamosas
Diversas condições podem resultar na ausência das células escamosas intermediárias, superficiais e parabasais. A causa mais comum é a atrofia epitelial, frequentemente observada em mulheres na pós-menopausa devido à diminuição dos níveis de estrogênio. Outras causas incluem: amostragem inadequada (coleta em local diferente do esperado, ou técnica inadequada que não obteve células da camada superficial do epitélio); infecções (embora menos comum, inflamação severa pode danificar as camadas epiteliais); ou substituição do epitélio escamoso por metaplasia glandular (onde células escamosas são substituídas por células glandulares). O uso de certos medicamentos também pode influenciar a composição celular do epitélio cervical.
Importância da Amostra e da Anamnese
A interpretação da ausência das células escamosas requer uma análise cuidadosa da amostra citológica e uma anamnese detalhada da paciente. Deve-se avaliar a qualidade da amostra, verificando a presença de células endocervicais ou metaplásicas, indicativas de uma coleta adequada da zona de transformação. A anamnese deve incluir informações sobre a idade da paciente, estado menstrual, histórico de uso de hormônios, histórico de tratamentos prévios (como radioterapia ou quimioterapia), e presença de sintomas como sangramento ou corrimento vaginal. A combinação desses dados permite uma interpretação mais precisa do achado citopatológico.
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Conduta Clínica e Seguimento
A conduta clínica frente à ausência de células escamosas intermediárias, superficiais e parabasais deve ser individualizada, levando em consideração a idade da paciente, seus fatores de risco e a presença de sintomas. Em mulheres na pós-menopausa com atrofia epitelial, pode ser recomendada a terapia de reposição hormonal tópica com estrogênio, seguida de nova coleta citológica para avaliar a resposta ao tratamento. Em casos de suspeita de amostragem inadequada, uma nova coleta deve ser realizada. A persistência do achado, mesmo após a correção da amostragem e/ou tratamento da atrofia, justifica a investigação adicional com colposcopia e biópsia, para descartar lesões pré-cancerosas ou cancerosas.
A ausência dessas células é mais comum na pós-menopausa devido à drástica redução nos níveis de estrogênio. O estrogênio é o principal hormônio responsável pela proliferação e maturação das células escamosas. Sem ele, o epitélio se torna mais fino e as células intermediárias e superficiais diminuem ou desaparecem, dando lugar a um epitélio atrófico.
A presença de células endocervicais (ou metaplásicas) indica que a amostra foi coletada da zona de transformação, a região onde a maioria das lesões pré-cancerosas e cancerosas se desenvolve. A ausência dessas células sugere que a amostragem pode ter sido inadequada e que a lesão, se presente, pode não ter sido detectada.
Negligenciar esse achado, especialmente em mulheres com fatores de risco ou sintomas, pode levar ao atraso no diagnóstico de lesões pré-cancerosas ou cancerosas do colo uterino. Em casos de atrofia, a ausência de tratamento pode causar desconforto e sangramento. É crucial investigar a causa subjacente e realizar o seguimento adequado.
A colposcopia é indicada quando a ausência das células escamosas persiste após a correção da amostragem e/ou tratamento da atrofia epitelial, ou em mulheres com fatores de risco como histórico de lesões pré-cancerosas, infecção por HPV de alto risco ou sangramento pós-menopausa. A colposcopia permite visualizar o colo uterino com maior detalhe e realizar biópsias de áreas suspeitas.
Sim, a TRH sistêmica pode influenciar o resultado do exame citopatológico. Ela pode levar a um aumento na proliferação e maturação das células escamosas, o que pode mascarar a atrofia epitelial e dificultar a detecção de lesões. É importante informar o médico sobre o uso de TRH para que ele possa interpretar corretamente o resultado do exame.
Embora menos comum, infecções vaginais severas podem causar inflamação intensa e danificar as camadas epiteliais, levando à ausência de células escamosas no exame citopatológico. A inflamação pode descamar as células superficiais e intermediárias, deixando apenas as células parabasais (ou nenhuma célula) visíveis na amostra. O tratamento da infecção é essencial para restaurar o epitélio normal.
A análise cuidadosa e contextualizada da ausência de células escamosas intermediárias e superficiais e parabasais ausentes em amostras citológicas é crucial para o manejo clínico adequado da paciente. A integração dos achados citopatológicos com a história clínica e os fatores de risco permite a identificação de causas subjacentes, evitando o superdiagnóstico e assegurando o tratamento oportuno de condições potencialmente graves. Estudos futuros devem se concentrar na otimização das técnicas de amostragem e na identificação de biomarcadores que auxiliem na diferenciação entre atrofia epitelial benigna e lesões pré-cancerosas ou cancerosas.